A chanceler alemã, Angela Merkel, visita oficialmente Angola a 7 de Fevereiro, naquela que será a sua segunda deslocação ao país e que tem como objectivo (quem diria?) aprofundar as relações bilaterais, anunciou hoje a Presidência angolana.
De acordo com uma nota da Casa Civil do Presidente da República, Angela Merkel, chegará a Luanda proveniente da África do Sul, tendo um encontro previsto com o chefe de Estado angolano, João Lourenço, durante a manhã do dia 7 de Fevereiro. Será, igualmente, “recebida” pelo Presidente do MPLA e pelo Titular do Poder Executivo.
Durante a tarde, a chanceler e o Presidente João Lourenço presidem à abertura do Fórum Económico Alemão-Angolano.
Angela Merkel visitará também o Museu de Antropologia, que iniciou um programa de cooperação com o Goethe-Institut Angola e a Fundação do Património Cultural da Prússia. Deslocar-se-á ainda a uma empresa alemã na capital angolana e vai encontrar-se com angolanos que estudaram na Alemanha.
Trata-se da segunda visita da chanceler Angela Merkel a Angola, tendo a primeira ocorrido no ano de 2011, ocasião em que foi acordada uma parceria alargada entre os dois países, segundo a mesma nota.
“A visita tenciona aprofundar ainda mais as relações entre a República Federal da Alemanha e a República de Angola”, refere o texto.
João Lourenço visitou a Alemanha em Agosto de 2018 e voltou a encontrar-se com a chanceler Merkel em Nova Iorque, em Setembro.
Milho alemão tem mais encanto?
João Lourenço disse no dia 22 de Agosto de 2018, numa conferência de imprensa conjunta com a chanceler Angela Merkel, em Berlim, que queria atrair investimento alemão na área da Defesa, na “vigilância e segurança marítima”.
Tinha (como sempre) razão. Que outra prioridade poderiam os angolanos querer? Isto porque investir na Defesa faz, segundo a estratégica visão do MPLA, crescer o… milho!
O chefe de Estado angolano sublinhou a “necessidade de atrair investimento privado alemão para praticamente todos os domínios da economia”. Mas deu destaque à área da defesa, revelando que Angola tem “uma costa marítima bastante extensa” que é preciso “cuidar”.
“Um país que se desenvolve e descura da sua defesa, não age de forma correcta”, reconheceu o ex-ministro da… Defesa, hoje Presidente da República, certamente convicto que a razão da força é bem mas decisiva do que a força da razão dos nossos 20 milhões de pobres.
“Estamos a convidar os investidores alemães a trabalhar com o estado de Angola (leia-se MPLA) na protecção da nossa costa, com o fornecimento de embarcações de guerra, tal como de outros meios eléctricos, para podermos controlar melhor esta vasta fronteira marítima que é uma parte do golfo da Guiné, uma parte que é cobiçada pelos piratas, pelos terroristas como forma de atingir os nossos países, de atingir as nossas populações, as nossas economias”, recordou com o seu reconhecido brilhantismo oratório o chefe de Estado.
Na conferência de imprensa conjunta, Angela Merkel confirmou o “interesse de Angola em cooperar com a Alemanha no domínio da defesa”, acrescentando a chanceler que há muito interesse em que “a costa angolana seja segura”, porque “não existe desenvolvimento sem segurança, nem segurança sem desenvolvimento”.
Por isso Merkel garantiu que a Alemanha tinha disponibilidade em cooperar desde que exista interesse por parte das empresas, congratulando-se com o “novo vento” (pouco importa se marítimo ou continental) que sopra de Angola.
João Lourenço, que visitava pela primeira vez a Alemanha desde que foi eleito, assegurou ter gostado muito do “ambiente das negociações” que manteve com a chanceler.
Questionado sobre a visita que iria levar a cabo a Pequim, no mês seguinte, e uma eventual cooperação militar com a China, o chefe de Estado angolano declarou que “os laços de amizade e cooperação são sempre diversificados e quantos mais amigos, mais parceiros, melhor”.
Em 2009, o antigo chefe de Estado de Angola, José Eduardo dos Santos, esteve na Alemanha e, em retribuição, a chanceler alemã, Angela Merkel, visitou Angola em 2011.
Presidente, general e ministro (da Defesa)
Recorde-se, por exemplo, que em Fevereiro de 2015 as marinhas da Alemanha e de Angola realizam, ao largo de Luanda, um exercício naval conjunto que marcou o alargamento das relações entre os dois países à cooperação militar.
O exercício decorreu da presença em Angola de quatro navios da Marinha alemã, nomeadamente três fragatas de guerra, no âmbito da Força Operacional e de Formação 2015 daquele país europeu, visando o combate à pirataria.
De acordo com o anúncio feito a bordo da fragata ‘Hessen’ – que estava atracada no porto de Luanda -, pelo capitão-de-mar-e-guerra Andreas Seidl, que liderava esta força, o exercício constou de uma abordagem das forças navais angolanas a um dos navios da frota da Alemanha, tendo lugar a duas milhas da costa.
“A visita desta força da Alemanha pode ser vista como o primeiro passo visível na intensificação da cooperação militar entre as nossas duas nações”, sublinhou Andreas Seidl.
O oficial esclareceu que a cooperação entre as marinhas de ambos os países estava na altura centrada na formação de operacionais angolanos, mas que era intenção das duas partes alargar a base desse entendimento à cooperação na área técnica.
A inclusão de Angola na rota dos navios alemães seguiu-se à visita, em Novembro de 2014, do ministro da Defesa angolano, João Lourenço, à Alemanha, ocasião em que foi assinado um acordo de cooperação de Defesa entre os dois países.
Na apresentação dos meios navais em Luanda, o embaixador alemão em Angola, Rainer Müller, assumiu “o orgulho” da Alemanha em ter o país africano “agora também como parceiro na área da Defesa”.
“Angola é um parceiro muito poderoso e influente em África e que tem uma bela história para contar”, afirmou Rainer Müller. Na altura – diga-se de passagem – José Eduardo dos Santos ainda não tinha passado de bestial a besta. E não tinha porque, pura e simplesmente, era quem estava no Poder.
Em cima da mesa, entre outros aspectos, esteve o envio de conselheiros técnicos das Forças Armadas alemãs para assistir as forças angolanas.
“Cabe aos ministérios da Defesa dos dois países decidir, mas a Alemanha está disposta a fazer muita coisa”, enfatizou o embaixador da Alemanha em Luanda.
A missão operativa, com incursão pelo mar do norte, oceano Atlântico, Golfo da Guiné, Cabo Esperança, oceano Índico e do Canal de Suez para o mar Mediterrâneo, tinha como objectivo a formação do núcleo de participação alemã nos grupos de intervenção internacionais, no âmbito de tarefas marítimas.
Contudo, o comandante desta força descartou acções de envolvimento directo pela Marinha alemã no combate à pirataria, sendo a prioridade a capacitação das marinhas dos países afectados.
As armas e o… milho
O Governo angolano previa gastar, em 2018, 19.500 milhões de kwanzas (78 milhões de euros) com a aquisição, pelo Ministério da Defesa Nacional, de helicópteros, embarcações de patrulha, equipamentos de vigilância da costa. Seria, pensou-se, uma forma de diversificar a economia e diminuir o número de pobres, os tais 20 milhões…
Entre os investimentos orçamentados pelo Ministério da Defesa Nacional contava-se a aquisição e equipamento de transporte de seis helicópteros, por 12.159 milhões de kwanzas (48,5 milhões de euros). Como se sabe, a Defesa é prioritária para preservar a vida desses milhões de pobres que, apesar de tantos anos nessa situação, ainda não aprenderam a viver sem comer.
Somava-se a aquisição de equipamento de vigilância marítima, por 4.231 milhões de kwanzas (17,3 milhões de euros), de embarcações de patrulha da costa, por 2.200 milhões de kwanzas (8,8 milhões de euros), e de radares e outras embarcações, por 1.000 milhões de kwanzas (quatro milhões de euros).
Outro dos grandes projectos do Ministério da Defesa Nacional em 2018 prendia-se com a construção e apetrechamento da Academia Naval de Porto Amboim – Kalunga, orçamentada em 1.500 milhões de kwanzas (seis milhões de euros).
No final de 2016, o embaixador da Itália em Angola abordou, em Luanda, com o então ministro da Defesa angolano, João Lourenço (que entretanto foi considerado vencedor das eleições gerais angolana e foi empossado como Presidente da República), a conclusão de um acordo para a aquisição de helicópteros.
No final do encontro, Cláudio Miscia explicou que foi solicitado um financiamento para este acordo, sem adiantar mais pormenores.
Em Outubro de 2015 foi noticiado que o Governo angolano iria pagar cerca de 90 milhões de euros pela aquisição de seis helicópteros à construtora AugustaWestland, construtora detida pela Finmeccanica.
Angola e a Itália assinaram, em Novembro de 2013 um acordo de cooperação no domínio da defesa e segurança internacional, que prevê a formação e treinamento nas áreas militar, inteligência, colaboração em operações humanitárias e de apoio à paz, busca, salvamento, desminagem e assistência médica e medicamentosa.
A proposta de lei do OGE para 2018, o primeiro do executivo liderado por João Lourenço, previa (com uma boa dose de irrealismo) um crescimento económico de 4,9%.
As contas do Estado angolano para esse ano previam um défice de 697,4 mil milhões de kwanzas (2.800 milhões de euros), equivalente a 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB), traduzindo-se no quinto ano consecutivo de ‘buraco’ nas contas nacionais.
Angola previa gastar em 2018 mais de 975 mil milhões de kwanzas (3.900 milhões de euros) em Defesa e Segurança, equivalente a 21,27% de todas as despesas do Estado, ligeiramente abaixo do orçamentado para 2017.
No OGE de 2017, o último apresentado por José Eduardo dos Santos, enquanto Presidente da República e chefe do Governo, o valor inscrito na rubrica de Defesa, Segurança e Ordem Pública, que inclui militares, polícias, serviços prisionais, tribunais e bombeiros, foi de 1,012 biliões de kwanzas (4.000 milhões de euros), o equivalente a 20% de todas as despesas.
Folha 8 com Lusa